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Escravidão em engajar e agradar

  • Foto do escritor: Dr. Thiago Pontes
    Dr. Thiago Pontes
  • 22 de mar.
  • 5 min de leitura

Estamos mais uma vez juntos neste capítulo onde irei trazer a tona dois pontos cruciais dessa nova era: o engajamento e o feedback de terceiros, dois pilares que infelizmente norteiam a mente da sociedade como um todo, mas mais especificamente da nova geração. Posso contar com você para juntos refletirmos? Ótimo, então vamos lá!

À medida que a internet tornou-se acessível à grande parte de sociedade brasileira e mundial; muitas coisas boas surgiram como conseqüência a partir de tal advento, uma das mais relevantes é a comunicação e interação social que faz parte da chamada globalização. Agora não mais vivi-se isolado ou isolada em uma determinada casa, bairro, cidade, agora é possível se comunicar com maior agilidade com pessoas que não estão por perto. Com tal advento foram criados aplicativos brilhantes, aplicativos que tem como finalidade atender as necessidades da população, e dentre os aplicativos criados apareceram o que hoje chamamos de “rede social”.

É a partir do surgimento delas que a coisa começa a ganhar foco. Nunca ouvi meus avós mencionarem que a demanda por consultas psiquiátricas e psicológicas estava grande em suas épocas, ao contrário de hoje em dia. As redes sociais têm lá seus benefícios sem a menor sombra de dúvidas, mas nosso foco aqui e explorar seus impactos psicossomáticos em que delas usufruem. Recordo-me que lecionei em uma escola a disciplina de Filosofia e Educação Midiática e em dado momento do conteúdo que me fora proposto passar havia a comparação do termo “usuário”, comparação que se dava ao usuário de drogas e que passou a se rotular quem dependia de redes sociais para conviver, sendo usuários de redes sociais. Até onde sei, um usuário de drogas ilícitas está beirando a dependência delas e se sem elas ficarem, tais pessoas surtam... Não me parece ser muito diferente do que vejo atualmente quando vejo pessoas cabisbaixas, ansiosas, inconformadas por terem esquecido seu celular em casa, ou estarem sem bateria. É como se lhes fosse tirado uma parte do corpo essencial para o bom funcionamento de si enquanto um ser humano virtuoso, como queria Aristóteles, grande nome da filosofia na Grécia Antiga.

No quesito engajar o que constatamos hoje é que as redes sociais viraram um comércio, ofertas de produtos e serviços, propagandas, marketings, imagens com autoridades, oferecimento de um nicho para que o usuário pertença e caso ele não aceite as regras do nicho e não venha a fazer parte do clube as conseqüências para tal usuário serão de isolamento. Você conhece alguma celebridade das redes sociais? Provavelmente sim, tais celebridades existe nos mais variados nichos, desde os profissionais qualificados até aquelas pessoas que só querem fazer você dar risada (já que a rotina da maioria das pessoas é almejar que a semana passe rápido, que as férias cheguem logo, pois odeia o trabalho que exercem e precisam de alguns vídeos de 30 segundos que as façam rir e esquecer que sua vida está caótica). Pois bem, o engajamento pode ser cobrado desde esses grandes nomes da mídia, pois é justamente lá neles que muito dinheiro é investido, para que eles ofertem algum produto, roupas, acessórios, ou serviços... Mas o engajamento pode se dar também aqui em nosso cotidiano de pessoas simples e desconhecidas, uma vez que você almeje ser vista, visto desejando que notem algo em você: seja seu sorriso, sua maquiagem, sua roupa, o cenário de onde você está e por aí vai...

Estar preocupado com engajamento vicia, presenciei isso na graduação em filosofia quando ao entrar na sala de aula da Universidade uma jovem que conosco fazia a graduação estava gritando brava e inconformada, perguntei o que estava acontecendo e ela me disse que havia postado uma foto dela na praia há 30 minutos e só haviam 344 curtidas, segundo ela já era para a tal foto ter no mínimo 800, que era o padrão de engajamento que ela costumava ter. Veja só que situação delicada, que se olharmos de fora podemos pensar que aquela reação foi um absurdo, mas se pararmos e analisarmos nossa vida, talvez percebamos que também, em algum momento somos reféns de algum tipo de desejo de engajamento, o que acha da idéia de fazer tal reflexão agora? Quantas vezes você já postou algo para mostrar o quão bem você está na vida naquele determinado momento? Para mostrar que está feliz, que está com quem ama, em um belo lugar, mostrar suas conquistas, buscando reconhecimento, curtidas, elogios, comentários, almejando ser vitrine e objeto de, o que na filosofia chamamos de mimeses; ou seja: imitação. Na PNL – Programação Neurolonguística – chamamos isso de modelagem. O que acha sobre essas provocações típicas da filosofia que estou lhe fazendo aqui agora?

Além de se buscar ser uma pessoa engajada, que posta regularmente, que é vista, é notada, buscasse em paralelo aceitação, buscasse uma aprovação, um feedback positivo de quem nos acompanha. Bem vindo ao mundo do marketing digital, onde você não é mais livre parar ser quem é, ou, até é sim livre, mas chegamos num ponto em que topamos qualquer proposta para sermos aceitos em algum nicho, em alguma área, topamos tudo, até mesmo abrirmos mão de nossos princípios e valores, tudo por aceitação, tudo por aprovação, tudo por engajamento, tudo por ser aceito, por poder pertencer, para ser alguém, mesmo que virtual e de mentira.

É esse o futuro que nos aguarda: o de meros fantoches virtuais nas mãos de uma minoria que visa o lucro e direciona a massa para onde eles bem querem?! Como você se sente ao ler esse capítulo? Você se percebe dependente, tal como um verdadeiro sentido da palavra usuário de redes sociais? Modifica seu humor pela falta de acesso a elas? Se deixa levar emocionalmente por opiniões de pessoas que interagiram negativamente em algo que você postou? É dependente de likes? Sente a necessidade de agradar aos outros o tempo todo? Eu confesso que já fui assim, esquecia que eu sou um ser humano único, ímpar, singular e que preciso basicamente ser ético no convívio social respeitando a liberdade do próximo, no mais, não dou a menor importância para o que falam de mim, o dia em que alguém me chamar pra dialogar sem gritarias e vou além, o dia em que alguém perguntar se eu ou algum familiar meu estamos precisando comprar algum remédio é justamente a partir disso que eu paro e dou atenção para o feedback de terceiros, caso contrário, podem falar, pois como diria o grande filósofo alemão Nietzsche: “O que não me mata, me fortalece”.

Termino esse capítulo lhe levando a refletir sobre isso, sobre ser dependente emocionalmente do que os outros pensam e acham de você, de se comparar com fulano ou cicrana, de querer ter uma vida falsa igual a dessas pessoas que estão sempre sorrindo em fotos e postagens, reflita se você se enxerga prisioneiro, escrava por reconhecimento e pertencimento em redes sociais. Eu enquanto professor já dialoguei com vários adolescentes que cogitaram tirar suas vidas por estarem nessa situação, por se compararem, por se sentirem pressionados a ser tal como os influencers, por não conseguirem se enquadrar em algum nicho e como consequencia se sentirem sozinhas, excluídas, aí eu lhe pergunto? Qual a sua visão acerca deste tema? Há um aplicativo para um equilíbrio emocional? Há um app que nos leve à nova era? Que nos leve em segurança, sem incertezas e surpresas pelo trajeto? Eu não tenho respostas prontas, apenas lhe trago perguntas, perguntas que valham a pena, produtivas e férteis para novas respostas vindas de você, tal como fazia o mestre da filosofia grega Sócrates com seu método da Maiêutica, o método da “arte da parteira”, eu não dou a luz a idéia, é você quem dá!


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