Prisioneiro da aprovação
- Dr. Thiago Pontes

- 22 de mar.
- 4 min de leitura
Resolvi trazer esse tema para juntos refletirmos nesse capítulo, pois me parece a cada dia mais e mais próximo de nós: a necessidade de aceitação. Fui inclusive mais longe no título: prisioneiros da aprovação! A base para tal reflexão advém do uso distorcido das redes sociais minha querida leitora, meu caro leitor. Posso contar com sua atenção aqui agora? Ótimo, então vamos lá!
Penso que as mídias sociais são tal como uma ferramenta, ou um instrumento, enfim, elas possuem lá suas variadas finalidades, tendo em vista facilitar e quiçá sanar as diversas necessidades que temos em nosso cotidiano. O ponto de partida aqui é: como as utilizamos? Ela é mera coadjuvante em nosso cotidiano ou acaba por ser a protagonista em nossas vidas? Não poucas vezes vejo pessoas da mesma família, num mesmo espaço, no mesmo cômodo sem se falarem, estando cada um com seu aparelho celular em mãos. Vejo pessoas em uma mesa no restaurante sem se falarem cada qual com seu foco no celular, onde foi parar o diálogo “olho no olho”? Se me permite, vou além; me parece que se você não for usuário de redes sociais postando lá suas atividades diárias você não é notada (o), pelo contrário, é como se houvesse um esquecimento de que você existe e tal teoria é fundamentada com os algoritmos, uma vez que você passa a não postar com tanta freqüência...
Enfim, as redes sociais em geral parecem encurralar seus usuários para que estes as usem por bem ou por mal, e o mal aqui diz respeito ao esquecimento de si, a marginalização, no seu sentido essencial, ou seja, aquela pessoa que está à margem da sociedade, no canto. Recordo-me de uma noite em especial em que na época de estudante universitário ainda na faculdade de Filosofia, uma colega de sala entrou extremamente revoltada, brava, agressiva. Perguntei o motivo de tal revolta me oferecendo para uma possível ajuda, ela disse que eu não podia ajudá-la e completou dizendo que havia postado uma foto há alguns minutos atrás e tal foto só havia tido cerca de 300 curtidas, likes... Só 300, só... Ela me disse que esperava algo em torno de 700 curtidas, likes, daí para mais... Esse episódio ocorrera no ano de 2015 e ainda me recordo dele, tamanho impacto aquela situação causou em mim. Isso me faz pensar em que medida somos prisioneiros de uma necessidade de pertencimento e aprovação social?! Com que medida sou medido pelo meu próximo?! Como a popularidade (ou a falta dela) impacta minha vida?! Hoje em dia trabalha-se muito na questão do engajamento, canso de ver perfis profissionais que vendem seguidores, aonde vamos parar com isso?! Você pensou que poderíamos chegar em um momento na sociedade virtual, nessa nova era a qual estamos adentrando que pudéssemos comprar “pessoas” escondidas por detrás da internet?! E a honestidade onde fica, será que tais pessoas realmente existem?
Essa reflexão não é para você apenas, eu sou o primeiro a me incluir aqui, sou o primeiro a refletir sobre tal necessidade, se sou prisioneiro de likes, de comentários, de críticas inférteis, haters... Há quem diga que: “- Quem não é visto não é lembrado!”, talvez esteja aí uma possível base para contra-argumentar uma vez que se expõem a realidade dos fatos, por vezes até com dados psicológicos mostrando a alta procura por psicólogos, psiquiatras e terapias das mais variadas, umas vez que pessoas não se sentem pertencentes à sociedade, não se sentem inclusas, muito pelo contrário: sentem-se excluídas. O que você acha disso? Como avalia seu uso em mídias sociais rotineiramente? O convite aqui da minha parte é para uma auto-avaliação, uma auto-análise com senso crítico; somos de fato livres ou precisamos parecer ser uma pessoa em redes sociais que não somos na vida real? Até que ponto precisamos de aprovação de determinado grupo social/ profissional? Como você pode reagir a isso e passar a se comportar? Em que medida você se considera um usuário viciado de redes sociais tal como existem usuários de drogas? A provocação é pesada eu sei, mas a resposta é você quem a tem! Vale ressaltar que está em alta nessa nova era em que estamos adentrando que existe toda uma “cultura do cancelamento”, ou seja, tal cultura além de lhe excluir caso você não seja um usuário assíduo, uma usuária assídua, esse nicho, que se sentem os ‘donos da verdade’ com seus novos valores (líquidos e temporários como sugeriu Bauman), estão 100 e% dispostos a lhe cancelar, ou seja, lhe criticar publicamente (nas redes sociais), local em que lhes é mais familiar. Irão lhe cancelar por uma má interpretação do que você disse, ou postou, irão tirar sua voz, sequer lhe dando direito de defesa. A “cultura do cancelamento” é uma novidade de desconstrução de uma era conservadora que pretende trazer a tona uma nova era, mas qual seria essa era? De inclusão? De cancelamento? De tolerância? De inovação? Existiria algum app que nos guiaria nessa transição mesmo não sendo usuário de redes sociais? Termino lhe deixando uma grande observação: mesmo que existisse tal app guiando-nos para um futuro previsível e justo, se não formos usuários das mídias digitais, ficamos de fora, excluídos. Reflita sobre o rumo que nosso mundo está tomando!




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